Decisão preserva títulos e dezenas de empregos e alivia a pesada estrutura de custos da Abril O presidente da Abrilpar Giancarlo Civita anunciou em nota ao mercado em 11/7 que a Abril vai transferir para a Editora Caras, da qual ele também é sócio, os títulos Aventuras na História, Bons Fluídos, Manequim, Máxima, Minha Casa, Minha Novela, Recreio, Sou+Eu, Vida Simples e Viva Mais. As redações serão transferidas gradativamente até dezembro de 2014, e a Caras passará a ser responsável pela produção de conteúdo, circulação e venda de publicidade de todas as revistas. Os serviços de assinaturas, distribuição e gráfica desses títulos continuarão a ser prestados pelo Grupo Abril. Segundo Fábio Barbosa, presidente da Abril Mídia, “com esse novo rearranjo do portfolio, a Abril ganhará mais foco no fortalecimento das suas marcas”. Não é a primeira vez que a editora toma esse tipo de decisão para reduzir custos, embora em cada uma as circunstâncias e cenários tenham sido diferentes. Uma delas foi na década de 1970, quando a Abril decidiu desfazer-se de sua Divisão de Revistas Técnicas, ficando apenas com Exame. Naquela ocasião, não houve um licenciamento, como parece ser o caso atual, mas sim a cessão de direitos das publicações para as equipes que as editavam. Os títulos – Química&Derivados, Maquinas e Metais e Transporte Moderno, entre eles – ganharam vida própria em novas editoras e, desse modo, puderam seguir longevas trajetórias, mantendo-se ativos até hoje – Química&Derivados, por exemplo, desde então dirigida pelo mesmo Emanoel Fairbanks. Outro movimento semelhante aconteceu em 1986, quando Ângelo Rossi convenceu o então presidente Roberto Civita a investir na abertura da Editora Azul, visando a atender a nichos específicos com revistas segmentadas. Inicialmente, a Azul, na qual Rossi era sócio minoritário, absorveu cinco títulos que já não se mostravam financeiramente viáveis dentro da estrutura da Abril: Contigo, Bizz, Saúde, Horóscopo e Carícia. Decisão ousada surpreende o mercado O Portal dos Jornalistas consultou algumas fontes que conhecem em profundidade as operações e motivações da Abril sobre as implicações da decisão, que, vista de fora, caracteriza-se como uma forma de desinchar a empresa sem sacrificar títulos e empregos, ao mesmo tempo em que garante a continuidade de duas operações estratégicas e rentáveis para a própria Abril: a impressão e a distribuição dos exemplares, que continuarão a gerar receita para a empresa. Numa estrutura mais enxuta, de custos menores, com administração centralizada, essas revistas, que já não cabiam no perfil financeiro da Abril, ganham relevância e podem voltar a ser lucrativas. Uma das fontes ouvidas pelo Portal dos Jornalistas ressalta que “a família quer menos, muito menos negócios (e incômodo). Quem está na operação, no entanto, sabe que a coisa é mais complexa. O grande número de negócios ajuda a pôr o prédio e as estruturas em pé. Com a acentuada queda de publicidade e consequente diminuição de receitas, fechar títulos seria o mais óbvio; o problema é que isso provoca impactos financeiros relevantes em outras áreas da Abril. O surgimento do Plano Caras, que de fato surpreendeu, me pareceu ótimo para todos, inclusive para os jornalistas. Sem ele, a tendência seria dez títulos a menos, e mais gente na rua”. Uma segunda fonte entrevistada pelo Portal dos Jornalistas analisa: “Transferir revistas menores para outras editoras faz sentido. Não é uma ideia nova dentro do grupo. A alternativa de simplesmente acabar com os títulos impacta outras operações da empresa. Você corta custos diretos, claro, mas deixa ‘clientes internos’ com faturamento menor. Revistas a menos significam encomendas menores para a gráfica, para assinaturas e para distribuição, tudo da Abril. Ainda que cada um desses títulos (Recreio, populares femininas) tenha tiragens de média para pequena, ao juntar tudo dá um número relevante. Imagino que o Jorge Fontevecchia [presidente da Caras] tenha visto pelo menos duas oportunidades no negócio. A primeira, mais óbvia, é aumentar o seu tamanho no mercado e, com isso, ter melhores condições para negociar com fornecedores. (Ganhos em publicidade são incertos, pois todas essas revistas geravam entre pouquíssimo ou nada no setor.) A segunda é criar uma fonte diferente de faturamento para a sua editora, sempre dependente da Caras, um título que, nos últimos anos, sofre com perda de circulação e anúncios – como todo o mercado, vale ressaltar. O anúncio da transferência ajudou a diminuir a tensão que envolvia o dia a dia de muitas dessas revistas. Eles agora sabem que não é o fim. O que deve acontecer agora na Abril é uma nova ‘acomodação de camadas tectônicas’. ‘Foco em fortalecimento das marcas’, como disse o Fábio Barbosa, vem a ser um tradicional sinônimo corporativo para mais cortes. É provável que eles continuem o processo de enxugar a estrutura editorial, inclusive no andar de cima, ou seja, um número reduzido de diretores de redação, cada um acumulando o maior número de títulos possível. Espero estar errado”.