* Por Maria Clara Prates
Hoje uma lembrança dos primeiros anos de juventude está me perturbando. Já fui ingênua, tímida e pura, coberta pelo manto do amor de uma família em que fui a primeira filha, neta e sobrinha. Por isso, conheço o amor em sua forma mais pura! Só descobri o mundo real quando fui estudar jornalismo na PUC. Tinha bochechas rosadas, cabelos cacheados loiros e olhos verdes. Uma beleza própria da juventude!
Mesmo despreparada me meti a viajar para o Enecom, um encontro de estudantes de jornalismo, aquele ano em Florianópolis. Foi um choque de realidade! Sexo, drogas e rock n’roll. À época, não bebia e nem fumava. Despreparada, de cara vi-me obrigada a morder até sangrar o braço de um cara que queria me estuprar depois de uma noite em um bar em companhia de Zaira de Andrade Paiva. Terror!
Os outros dias foram tranquilos. Estava em uma pracinha no campus da Universidade esquentando um sol, como se diz no interior de Minas, tentando espantar o frio, quando se achegou um homem de poncho e chapéu peruano, ostentando um bigode espesso que lhe cobria toda a boca. Senti-me incomodada por ele interromper a gostosa sensação de solidão.
Eu tinha comigo um livro da trilogia de Kafka. Conversamos muito como velhos amigos a partir daquela leitura. A conversa durou horas, até a noite começar a cair. Lá pelas tantas chegou um amigo, Vasco, que nunca mais vi. O ignoramos. Mas o clima entre nós tornou-se aconchegante e aquele homem tentou me dar um beijo. Traumatizada com a primeira experiência e com medo daquele volumoso bigode, recuei.
Naquele momento senti uma dolorosa cotovelada nas costelas e ouvi a frase: “Você está dando de gostosa com o Belchior?”. O encanto se quebrou e ele se foi.
Na noite daquele mesmo dia fez um show inesquecível. Eu, que sempre fui fã incondicional dele, estava na primeira fila. Trocamos olhares cúmplices até que ele se foi. Mais uma vez prevaleceu a emoção.
#voltabelchior, como defende meu amigo Kerison Lopes.