Depois de 35 anos de profissão completados em maio, 22 dos quais no Correio Braziliense, o editor executivo Vicente Nunes acertou com o jornal sua saída do País para trabalhar como correspondente em Portugal, para onde embarcou nessa terça-feira (7/6). Em conversa com este J&Cia, Vicente, um dos +Admirados Jornalistas de Economia do País, fala sobre as motivações que o levaram a fazer a mudança.
Jornalistas&Cia – Como foi tomar essa decisão após tantos anos de trabalho em Brasília e no Correio Braziliense? O que o motivou?
Vicente Nunes – Na verdade, eu já vinha planejando me desligar do trabalho que atualmente cumpro no jornal, mas com a pandemia tive que adiar meus planos. Pretendo estudar um pouco, dar uma parada no ritmo do dia a dia. Nesse sentido, já vinha negociando com o Correio, com quem tenho uma ótima relação. E, na semana passada, conseguimos chegar a um acordo que fosse bom para mim e para o jornal. Dessa forma, continuarei no CB, como correspondente, baseado em Lisboa. É bom lembrar que entre 2000 e 2002 fui correspondente em Nova York, época em que cobri o atentado às torres gêmeas, e agora, mais de 20 anos depois, decido voltar a ser correspondente. Começo a nova etapa do meu trabalho no dia 1º de julho.
J&Cia – E como será essa mudança na prática, inclusive deixar o País nesse momento ímpar na história do Brasil?
Vicente – O momento no País está mesmo muito difícil, mas estou precisando desse distanciamento do dia a dia no trabalho. E acompanhar, de perto, como as pessoas de fora estão vendo o País. Tenho conversado com pessoas que deixaram o Brasil e avalio que, com a bagagem que adquiri nesses anos de trabalho, tenho boas chances de trazer para o Correio justamente essa visão de fora. Pretendo fazer muitos vídeos, entrevistas especiais, manter a participação na coluna CB Poder, veiculada pela TV Brasília, e manter meu blog ativo. Aliás, o mais importante disso é que vou voltar a ser repórter, como gosto, neste especial momento em que completo 35 anos de redação. Sou do interior de São Paulo, de Guaratinguetá, comecei minha carreira no Jornal do Commercio, no Rio de Janeiro, para onde me mudei e cursei a faculdade de Jornalismo. E preciso admitir que minha paixão é a reportagem. Por isso, saio de peito aberto. Tenho muitas histórias legais para serem vividas e contadas. O continente, assim como o mundo, estão também fervilhando, inflação alta, polarização política, ascensão da extrema direita etc.
J&Cia − Imagino, então, que com a mudança você deverá deixar um pouco a cobertura de Economia…
Vicente – Sim, na prática devo ampliar o leque de cobertura para outros assuntos. Quero muito também contar histórias de gente, pois há muitas pessoas fazendo coisas importantes lá fora.
J&Cia − E, com tantos anos no Correio, com uma atuação cada vez mais dinâmica, chegando a ser atualmente um dos editores executivos do veículo (ele divide o trabalho com Plácido Fernandes), como ficará o jornal nessa nova fase?
Vicente – O CB tem uma força de trabalho espetacular, que vai continuar tocando o jornal de forma ampla e com boas pautas. A equipe é composta por profissionais competentes e comprometidos com a história do veículo.
J&Cia − Como acha que o País seguirá após este histórico pleito eleitoral? Como você vê o futuro do Brasil?
Vicente – O País tem futuro. Vai conseguir superar este momento porque tem instituições fortes, e acredito que as pessoas não vão optar novamente pelo retrocesso. O Brasil não vai errar de novo. Ele não aguenta essas fissuras que foram criadas internamente, não aguenta mais quatro anos sem quebrar de vez. Mesmo trabalhando de fora, estarei torcendo muito para o País.
Ana Dubeux, diretora de Redação do CB, que em 5/6 escreveu sobre a despedida de Vicente, disse que o jornal ainda estuda a substituição dele na editoria executiva.