Na tarefa da imprensa de vistoriar as obras para a Copa do Mundo de 2014, Vitor Guedes (esq.) certamente tem papel de destaque. Com seu quadro Pra toda obra, exibido três vezes por semana pela BandNews FM, ele vem apresentando há quase um ano um retrato da transformação provocada pela construção do Itaquerão na Zona Leste de São Paulo, acompanhando o andamento da obra, as mudanças no bairro, as expectativas dos moradores e o dia-a-dia dos profissionais que trabalham na edificação do estádio que será palco da abertura daquele grande evento. Corintiano assumido e morador da região, Vitor, que também assina a coluna Caneladas do Vitão, no Agora São Paulo, defende essa postura, quase que rara no jornalismo esportivo, de não esconder sua preferência futebolística. ?Antes de ser jornalista é obvio que eu era leitor, ouvinte, e pra mim nada é mais irritante do que um profissional que mente, que diz que torce pro Milan ou pro Jabaquara. Todo mundo tem um time e acaba demonstrando isso mais cedo ou mais tarde. Como jornalistas, temos que dizer o que acontece de fato, e assumir seu time de coração não muda os fatos?. Na última 6ª.feira (27/7) ? em meio à enxurrada de jornalistas levada à obra pela visita do técnico Tite, do Corinthians, para pagar a promessa, feita durante as finais da Libertadores, de que trabalharia um dia junto com os operários se fosse campeão ?, Vitor Guedes nos recebeu para um bate-papo, em que falou um pouco sobre sua carreira, relação com o Corinthians e o acompanhamento das obras para a Copa 2014. Portal dos Jornalistas ? Como surgiu seu interesse pelo jornalismo?Vitor Guedes ? Quando adolescente eu queria mesmo era ser jogador de futebol. Mas aí, quando a gente vai chegando naquela fase de escolher o curso, eu já sabia que seria algo relacionado à área de humanas. Eu não era daqueles que pensava no jornalismo desde criança, e quando resolvi fazer o curso queria seguir pela área esportiva ou política. Ainda assim, acho que tive sorte, porque você não faz o curso sabendo se vai para aquela área ou não. Porém, um dos meus primeiros empregos foi no Lance, depois disso, todos os convites que tive foram na área esportiva. Mas é claro também que nunca fui procurar emprego no Valor Econômico, por exemplo (risos). Portal dos Jornalistas ? Você recebe cobranças de leitores por assumir seu time de coração?Vitor ? De vez em quando. Isso é normal e eu recebo com naturalidade. Mas, por incrível que pareça, a pergunta que mais me fazem é sobre o time de outro repórter que não revela. É engraçado, porque nenhum leitor tem interesse em saber em quem vota o repórter de política, mas no jornalismo esportivo essa curiosidade é muito grande. Portal dos Jornalistas ? Como reage nesses casos?Vitor ? Nunca deduro o time de ninguém, cada um que assuma o seu, mas a dica que dou é óbvia: você percebe para que time um jornalista torce muito mais pelas críticas do que pelos elogios. Com o seu time, você é mais corneteiro, mais crítico, mais exigente, tem mais lembranças afetivas das histórias e de bons momentos. Você compara e é sempre mais exigente com o que gosta. Portal dos Jornalistas ? E como surgiu essa oportunidade de fazer o Pra toda obra?Vitor ? Por ser repórter esportivo, morar na ?ZL? e brincar sempre com isso em minha coluna no Agora, acabou surgindo o convite do André Luiz Costa (N.R.: diretor de Jornalismo da BandNews FM). Fui lá, gravei, o pessoal gostou da ideia de tentar passar ao público como é o dia a dia do trabalho, o envolvimento das pessoas da obra com o local de trabalho, o crescimento que traz à região etc. Portal dos Jornalistas ? Dez meses depois do primeiro programa, como você percebe a evolução da obra?Vitor ? É tudo muito rápido, às vezes fico uma semana, dez dias sem vir gravar, e quando chego aqui muita coisa já está diferente. O ambiente aqui também tem ajudado muito para isso. O que percebo é que os trabalhadores se sentem não apenas como funcionários, mas como parte da obra. O clima realmente surpreende e você não vê gente reclamando. Para uma obra onde o trabalho não é fácil, há uma grande harmonia e o pessoal está sempre feliz, alegre. Isso eu gosto de mostrar em meu programa, o ambiente como ele é. Portal dos Jornalistas ? E como você sente que está a cobertura esportiva em relação aos assuntos da Copa? A imprensa está desempenhando bem o papel de fiscalizar o que está acontecendo?Vitor ? Primeiramente, acho que tudo em São Paulo é maior. A cobrança é maior, o acompanhamento é maior e repercute muito mais. Então, é lógico que por aqui as coisas estão diferentes do que em obras como as de Cuiabá e Manaus, por exemplo. Mas em relação à cobertura mais política do assunto e o uso do dinheiro público, vejo que a grande imprensa, ou boa parte dela, está fazendo o seu papel, prova disso foi a queda do Ricardo Teixeira. Claro que ela não foi a única responsável, mas as denúncias começaram por meio da imprensa. Fato é que toda profissão tem bons e maus profissionais, mas tenho a convicção de que nossa imprensa é formada por mais pessoas boas e bem intencionadas do que ruins. A imprensa não é polícia, não temos o papel de prender, mas sim uma importante obrigação de mostrar os fatos. * Em tempo: Vitor Guedes é irmão dos também jornalistas esportivos Marília Ruiz e Marcos Guedes, e autor do livro Paixão Corintiana ? A história de amor de um povo pelo seu time, contada em 100 histórias cotidianas (Publisher Brasil), lançado no começo do ano. Nascido em 1977, ano da quebra do jejum de 23 anos sem título do Corinthians, considera o jogador Basílio, autor do gol que deu a vitória do time paulista naquela ocasião, seu maio ídolo, tendo inclusive dado o nome do atleta ao seu filho.