Por Luciana Gurgel
O rebranding do Twitter pegou o mundo de surpresa e desagradou boa parte dos usuários do agora X, entristecidos ou revoltados pelo fim do nome associado ao pássaro azul que acabou virando verbo, sinônimo de postar uma mensagem.
Essa associação entre imagem, palavra e o uso de um produto ou serviço não é fácil de alcançar. No entanto, Elon Musk jogou tudo para o alto e resolveu começar do zero, o que muitos atribuíram a mais um capricho do empresário excêntrico, que já fumou maconha durante uma entrevista e adora a letra X, usando-a como nome de seu novo brinquedo.
Musk já deu mostras, para o bem e para o mal, de que não é um empresário comum. É preciso reconhecer que ninguém se torna bilionário com a idade dele e vira o homem mais rico do mundo sem consistência.
Por isso, o rumo que ele sinalizou para o Twitter ao anunciar o rebranding − transformar a plataforma em muito mais do que uma rede social, ganhando dinheiro com serviços financeiros − até faria sentido comercialmente e estaria alinhado ao caminho de dois gigantes, WeChat e TikTok.
O primeiro é um aplicativo-faz-tudo usado por mais de 1 bilhão de chineses diariamente para praticamente todas as necessidades da vida cotidiana. É a terceira marca mais forte do mundo, segundo o relatório Media 50 da consultoria Brand Finance.
Já o TikTok, pressionado nos EUA e com riscos de ser obrigado a trocar de dono no país, anunciou em abril que iria aplicar “bilhões de dólares” na Indonésia, principalmente em publicidade e suporte a marcas interessadas em utilizar sua plataforma de comércio eletrônico para venda de produtos por meio de links nas transmissões.
Só que o mercado não comprou a versão apresentada para o que está sendo chamado por muitos de vandalismo ou destruição de um patrimônio por pura birra.
Não há evidências de que o objetivo de Musk fosse transformar o Twitter em uma máquina de fazer dinheiro sem depender da publicidade ou de venda de assinaturas quando ele desafiou o conselho que não o queria como dono e comprou a rede social por US$ 44 bilhões, em outubro passado. Ele até falava do super-app, mas não havia nada concreto nesse sentido. Sua narrativa era outra, centrada no idealismo de transformar o Twitter em “uma praça pública digital onde são debatidos os assuntos vitais para o futuro da humanidade”.
Mesmo que ele tenha mudado de ideia ao ver o tamanho do rombo financeiro, a fragilidade da oferta de super-app dá razão aos que apostam na ideia de capricho ou maldade, destruindo uma marca de que o mundo gostava antes de ele assumir o controle − uma vingança contra a rejeição.
Em um dos posts sobre o rebranding, Linda Yaccarino, CEO da plataforma, disse que o futuro do X seria a “interatividade ilimitada, centrada em áudio, vídeo, mensagens, pagamentos e atividades bancárias, criando um mercado global para ideias, bens, serviços e oportunidades”. Mas ficou por aí, sem detalhes sobre esse futuro.
Os críticos do suposto plano de super-app lembraram que o contexto do WeChat, modelo inspirador, é radicalmente diferente. Ele concentra vários serviços governamentais, e outros de companhias da própria holding Tencent, que tem em seus quadros milhares de funcionários afiliados ao Partido Comunista Chinês.
Alguns recordaram que Mark Zuckerberg também tentou um super-app há dez anos e fracassou − isso quando ainda não havia restrições sobre privacidade de dados como hoje em dia.
A seu favor, Musk tem o conhecimento no setor financeiro. Sua primeira empresa X deu origem ao PayPal, vendido para o eBay.
Mas é preciso confiança para conquistar clientes que coloquem seus recursos em um super-app ou se cadastrem para fazer compras nele. E foi ela que o Twitter jogou para o alto em um dia.
Os efeitos foram rápidos. A perda de valor da marca da empresa pode ser de US$ 5 bilhões a US$ 20 bilhões, dependendo da consultoria.
Se serve de consolo, caso o ex-Twitter e atual X morra, não será o Twitter que muita gente adorava. Aquele foi sepultado em outubro de 2022. Por enquanto, sem deixar herdeiros.
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